domingo, 29 de abril de 2012

B 508

Ontem foi um dia à parte. Enfim um dia em que um ciclo de 7 anos se encerrou. O fim do B 508.

Ainda gostaria muito de escrever artisticamente sobre o B 508. Mas haja tempo e trabalho artístico mais reverberação do inconsciente e da memória involuntária.

Escrevo um pouco do que foi para mim o B 508, mas só um pouco. Bem pouco mesmo.

Pelo B 508 passaram muitas pessoas, muitos desejos, muitas loucuras, muitos misticismos, muitos entorpecentes de vários mundos, muitos amores, muitos dissabores, muitos muitos recheados de uma diversidade anômala tão normal para o meu mudo. Se pudesse eternizar o presente, jamais sairia do comodismo da vida que tive enquanto pude viver B 508.

2006: chego ao B 508. No dia em que chego, Sete, o gato preto que já morava lá antes de mim, cai do 5° andar.  Fica meses engessado, sobrevive, e em 2008, vai embora com seu casal de donos, Ricardo e Luiz.

2007: colo em uma das paredes de meu quarto várias conjugações de verbos em francês e declinações em latim.

2008: vou para Portugal, para Coimbra, encaixoto minhas coisas e durante 6 meses quem fica em minha vaga é Asuka, de Quioto, Japão.

2009: volto de Portugal. Cansada da graduação, começo a dar aulas de gramática em um cursinho e enfio na minha cabeça que preciso sair do Crusp, afinal, em 2010 termino a faculdade.

2010: ano da formatura. Formo-me, enfim. Comemoro meu diploma no Mc Donalds. Mas comemoro-o ainda mais por ter conseguido escrever um "projetinho" de mestrado. Não quero me afastar da universidade. Assim é como significo essa minha passagem por esse mundo insano chamado vida.

2011: à toa, nem tanto, resolvo sair do Crusp. Em março. Em abril, a surpresa, morte repentina de meu pai. Confusão. Uma morte causa muita confusão. Adiei meus planos, e devido a problemas escusos, acabei voltando no último mês de 2011 para Sorocaba.

2012: começo a trabalhar em Itapetininga. Mas quero estar em São Paulo. Não em São Paulo, mas na universidade. Relação de amor e ódio. Volto a me hospedar no Crusp - B 508 somente às sextas. Adriana me acolhe! - Atritos. Não com ela, é claro, mas com os novos habitantes B 508. E B 508 já não é o mesmo B 508. Adriana muda-se, eu a ajudo na mudança, e diferente das outras vezes em que saí de B 508, dessa vez vi que foi a última, vi que não voltarei nunca mais àquele apartamento.

Que tudo de estranho que por lá passei, que lá se enterre! Que boas energias nasçam!

Acredito que em breve voltarei a morar no Crusp. Mas o B 508 é passado, assim como toda energia de trevas que ali se plantou.

2012: o ano do fim do mundo.

2012: para mim, fim de mais um setênio. Daqui 10 dias farei 28 anos e saio desse ciclo. Evoé!

terça-feira, 24 de abril de 2012

o painel branco de meu relógio de pulso

o redondo branco do relógio vinha ultimamente me mostrando com efeito tal de fazer questão que mais e mais ele - o tempo - tenta escorregar a minha vida de cinco em cinco minutos, do 1 ao 12, um total de vinte e quatro voltas de 60 minutos.

assustada pela atrocidade do visor de meu relógio de pulso, que tinha um olhar mais penetrante do que um bruxo medieval ou uma cigana espanhola, tentei-me a encará-lo de maneira a enfrentá-lo, e assim parecia estar começando a vencer a batalha.

o painel branco do relógio pareceu ficar mais e mais branco. Quando dei por mim, já era um dos ponteiros, ou estava presa aos ponteiros. sei que já não me amedrontava com o olhar do painel deste meu relógio de pulso. sei somente que agora, tudo ao meu redor era branco, os números gigantes, e eu girava de sessenta em sessenta segundos. não era mais a sua dona. mas ele também não podia mais me encarar.

agora vivia dentro do relógio.

seria o atual momento a fúria do relógio contra mim, ou seria ainda eu quem tomara conta do tempo aprisionado pelo relógio, invadindo seu território, e nele fazendo-me tornar rainha?

o redondo branco me cerca. os números me cercam. estou pisando no branco do relógio. estou convivendo de igual para igual com seus 12 números estampados.

meu coração agora bate e soa um som parecido ao do motor do relógio. e ambos não são clichês, sendo incapazes de emitir som de tic tac ou tum tum. desconheço o seu som.

torno-me assim cidadã do tempo.  

sábado, 21 de abril de 2012

Fim de festa

Sexta-feira. Ela já inicia cansada as suas atividades e pensa em coisas diferentes para fazer além das obrigações. À tarde, faz uma coisinha ou outra, tira um cochilo de 30 minutos, vai fazer uma visita relâmpago que lhe dá na telha, sai correndo, e à noite, chega com 30 minutos de atraso na aula.

Sai da aula.

Pega o carro.

Vai à casa da amiga.

Faz maquiagem.

Vai pra uma festa estranha com gente esquisita na universidade.

Pergunta-se desde que se levantou se está fazendo a coisa certa.

Bebe cerveja. Bebe cerveja. Bebe cerveja.

Fuma.

Bebe Selvagem.

Fuma.

Dispensa a vodka.

Fuma.

Começa a se sentir fora do normal mais do além.

Come um cachorro quente.

Começa a chover.

Fica em sopa.

Encontros e desencontros, quer somente fugir.

Meninos do francês, do árabe, mexicanos, politrecos, metodiatas, filhos da PUC, barbudos da FFLCH...

Foge, foge, foge, e resta-lhe chorar com espectador.

Chega à casa da amiga.

Toma uma ducha.

Quer ficar sozinha.

Quer ficar sozinha.

Quer ficar sozinha.

Quer ficar sozinha.

Quer ficar sozinha.

Quer.

Sozinha.

Quer sozinha.

Quer ficar.

Sozinha quer.

Ficar quer.

Sozinha.

terça-feira, 17 de abril de 2012

conversas com duas amigas e considerações sobre texto de Arnaldo Jabor sobre relacionamentos


Enfim, D. & K., 

Eu não gosto do pathos de Jabor. Mas enfim, talvez não goste de seu discurso "curto e grosso" que tenta fazer graça da desgraça. 

De qualquer forma, o que mais me chama a atenção, fora os clichês de seu texto, é:


Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
Gostar dói. 

Acredito que eu precise desse momento de saber viver só. Como toda leitura implica uma subjetividade super mega particular, é inevitável que eu tome como norteamento de sentido o que acho que melhor se encaixa às minhas necessidades. De qualquer forma, não estou fechada para balanço, o que quero dizer, é que sou uma romântica-promíscua, mais romântica que promíscua. Mas se eu gosto do cara, daí fodeu: me apaixono. E isso não acontece com todos, é óbvio. E a merda é essa, não ter medo de se apaixonar. E quando há paixão, a razão é um adereço que ficamos tentando resgatar com negativas e com adivinhações ansiosas a respeito do objeto por quem se cria o afeto. É praticamente a libido freudiana. Rs. 

Outra máxima do texto para mim é a seguinte:


Nascemos sós. Morremos sós.
Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. 

Assim sendo, que fiquemos em companhia somente de quem faça bem para nós. Começou a dar merda, é porque não é para o nosso bem. Logo: bingo! pessoa errada para compartilhar ideias, desejos e amor. 

A última máxima, para fechar com chave de ouro:


A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. 

Assim, quando alguém falar isso, cobre pelo menos R$ 100,00 a sessão, que é o preço de um psicólogo mais barato, mas há até aqueles que chegam a cobrar a exorbitância de R$ 2.000,00 por uma consulta, para ouvir todas as dúvidas que um indivíduo carrega consigo. Principalmente a célebre "eu não sei se amo..." 

No demais, vou morrer com dúvidas, então, tento acalmar meu espírito. Levo ele para passear em um boteco, em uma balada, em uma igreja, em uma roda de amigos, em um livro, em um filme... encho-me de referenciais e tento me livrar da ideia absurda de que há alguém no mundo para ser "o amendoim da minha paçoca". 

Beijos, queridas!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

inferno astral

Eu sou, não completamente, entretanto bastante cética, mas tendo a acreditar em forças físicas naturais, como a relação entre a lua, a maré e a pesca. Levando isso em consideração, quem sabe haja mesmo inferno astral? Pois bem, digo isso porque em breve farei aniversário. 28 anos.

Atualmente o caos está instaurado. Mas se analisar bem, ele sempre esteve instaurado desde o início. Mas agora, a "adultidade" faz as coias mostrarem simplesmente que "viver custa". Custa estômago, custa responsabilidade, custa sono, custa dinheiro, custa tempo, custa pele macia, custa baladinhas perdidas, custa tardes com os amigos, custa irmãos, mãe e pai, custa a vista, custa o sonho... viver custa.

De tudo, tiro de tudo tudo que está a desagradar.

Ah... E tento ver o sol e nele chamar mais boas doses de esperança. E dessa dose, tento contrair também grandes doses de energia... pois como viver custa, se não renovo o estoque, tudo vira trapo.

No demais, imagino que as coisas poderiam estar piores. Mas enfim, a minha vida é esta. Vim para este vasto vasto vasto vasto mundo e se não correr atrás do que realmente quero, o amanhã ficará com remorsos do não tentei, do tive medo, ou do simplesmente, deixei tudo como estava.

Voilà, o inferno astral está me tirando do eixo são. Que chegue logo, pois, o 10 de maio e seus 28 anos de planeta Terra.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Por que não gosto de relacionamentos virtuais

Lá abaixo, resposta dada a uma amiga que me enviou um link com um texto sobre um estudo a respeito dos relacionamentos virtuais

Ela ressalta o seguinte trecho:

"Relações amorosas na contemporaneidade e indícios do colapso do amor romântico (solidão cibernética?)

(...)

O consumismo, decorrente do impacto da cultura narcisista, reforça a valorização excessiva do corpo e seus estereótipos veiculados pela mídia; a necessidade de aquisição de bens para complementar a fantasia narcísica e o uso de drogas, lícitas e ilícitas, para fugir do stress cotidiano, problemas de comunicação interpessoal (como as pessoas estão 'ensimesmadas', têm dificuldades de falar de si e se fazer compreender pelo outro), problemas financeiros e até suportar a própria solidão. Em decorrência de tudo isso, as relações afetivo-amorosas passam a ser fugazes e, mesmo que mantidas, somente enquanto for conveniente para ambos, girando em torno de momentos de conjugalidade e individualidade, prevalecendo à busca do incremento profissional pessoal, o que a fidelidade sexual ou a não exclusividade podem ser opções dos membros da relação.

Neste sentido, a promessa do amor romântico seria falha porque não abarca todos os pré-requisitos característicos e parece-nos não acompanhar as transformações dos novos modelos de comunicação e de relacionamento pela volubilidade, superflexibilização características. Em termos da relação cibernética, o que parece atrair os indivíduos é justamente a possibilidade de criar uma realidade imaginária. Em termos psicológicos, a sala de chat pode ser considerada como uma sala de espelho onde o usuário expressa aquilo que ele expressaria para si, ou seja, ele fala para o outro, mas psicologicamente fala para si, principalmente se não houver evidência física desse outro e se este for um desconhecido. Isso reforçaria a expressão progressiva de conteúdos privados, na perspectiva de salvaguardar sua auto-imagem. No fundo, a relação virtual (amorosa ou não) parece manter uma solidão intrínseca, do sujeito para si, quando ele se projeta naquilo que crê ser agradável para outro, mas que na verdade parece esar mais voltado para si, demonstrando uma alienação de si que, embora evidencie o seu próprio eu, não permite uma entrega autêntica ao outro."

Eu lhe respondo:

Pelos chats o indivíduo se relaciona, antes da comunicação, com sua escritura... a manifestação não é automática como na fala, o indivíduo tem tempo de se colocar diante de seu ato de enunciação, ou seja, produz enunciados carregados de significações que visam a construção de um sujeito, e esse sujeito é o "outro eu" criado pelo indivíduo que escreve. Assim, a escrita é um outro meio de relacionamento: são sujeitos construídos que se relacionam... vide os romances epistolares que conhecemos, como em "Emile et Sophie", de Rousseau e "As ligações perigosas" de Choderlos de Laclos. Cria-se uma atmosfera literária e romântica para uma situação por meio da escrita. Parece absurdo, ou coisa de quem faz letras, mas é verdade. rs.

Mais sobre a pesquisa em Revista Mal Estar e Subjetividade

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sorocaba, 02 de abril de 2012

     De resto do choro, ficam as palavras de saudade. Nesta semana faz um ano que meu pai morreu.
     Nesta semana, meu eu queria vê-lo. Que fosse em sonho, que fosse um espectro. Meu eu queria vê-lo.
     Lembro-me da última vez que o vi. Dei-lhe duas camisas e um joguinho com três cuecas. Ele tinha me pedido para trazer. Já faz mais de um ano que lhe dei um último abraço e disse-lhe "amo você, pai!". Seu sorriso de desdém manhoso está no eterno de minha lembrança. Seu tamanho pequenino, seus discursos embriagados, suas piadas, todas as coisas boas que cravam essa saudade nessa semana doída por sua ausência. Ele podia estar aqui com sua chatice reclamona, mas eu não sei o que foi dele depois do dia 6 de abril de 2011. Eu queria ir visitá-lo onde ele está. Eu queria poder senti-lo, queria não poder sentir essa tristeza. Queria poder perder o medo de ficar só... medo que não sai. Medo de que ele convide minha mãe para junto de si... medo que não sai.
     Hoje, se ele ainda estivesse aqui, estaria com sua chatice reclamona, mas estaria aqui. Perdê-lo foi perder 50% do que eu era. Metamorfose da morte. A vida é um sopro e a morte uma constante. A vida passa em milésimos de segundos, a morte é um registro perene. A morte fica. Os olhinhos cansados da vida de meu pai descansaram. Onde será que ele está? Será que ele renasceu? Será que ele ressuscitou? Será que ao pó simplesmente voltou?
     Saudade do que me tiraram. Dão-me a vida e a tiram de mim aos poucos: primeiro alguns amigos, depois meu pai, depois outros amigos.
     Eu queria escrever um texto de alegria, porque quero acreditar que o meu pai está no lugar que ele mais amava estar: perto do mar. Com sol ou com chuva, mas perto do mar. Quero que ele esteja com o seu violão, cantando com sua voz linda, contando piada, fazendo as pessoas ao seu redor sorrirem. Quero vê-lo feliz, como muitas vezes vi.
     Se nascer dói, não me lembro. Se morrer doerá, não o sei.
     Nascer e morrer: a vida é um sopro de dias, de meses ou de anos. Quantos, não os sei.
     Todos os dias permito-me nascer e morrer. Não sinto dor. São falsos então estes meus atos de nascer e morrer?
     Paizinho, quero deixá-lo descansando em paz, mas meu eu questionador meio cético meio pseudocristão leva-me à tormenta de um estado de espírito que não sossega - vai e vem, vai e vem, vai e vem. Egoísmo de minha parte, queria que viesse me contar tudo sobre tudo. Se não vem, começo a crer que tudo é orgânico pó.
     Saudade. Resumo do vazio. Motivo do choro. Desejo da reclusa. Eminência do ceticismo.
     Paizinho, a única coisa que me resta é continuar vivendo. Não sei se um dia vou reencontrá-lo, queria muito que esse reencontro fosse fato certo, evento verídico. Ninguém, nenhuma literatura ou ciência pode me assegurar. O ser humano é mau, quando menos mau, é louco, e eu, cética, má e louca - ser humano eu - e sou boa - o que me traz esperança do incógnito. Acredito somente no meu amor - este amor que chora saudade.
     Paizinho, já que é quase Páscoa, conforme algumas literaturas, meu amor deseja que vire um anjinho, ou uma estrela, e que passe a divertir os seres humanos com espíritos perdidos em intrínsecos questionamentos.
     Paizinho, enquanto eu viver, sentirei saudades.