domingo, 9 de dezembro de 2018

Você não tem 'perfil'


Passara-se exatamente um ano e o mesmo ocorrera. Era dia 7 de dezembro. 2018. O nome atribuído ao malicioso artifício sofístico era 'perfil' (retrato moral e físico de uma pessoa). Ao dizer a alguém que ele não tem o devido 'perfil', diz-se o mesmo que “você é imoral e seus aspectos físicos não nos satisfazem”.

Como a palavra fora ouvida em mesma ocasião e em mesma data, no 7 de dezembro de 2017, a curiosidade aguçou-se e houve a necessidade de consultar o dicionário etimológico. Do castelhano, século XVI, 'perfil' quer dizer “contorno do rosto de uma pessoa vista de lado”. Conclusão: perfil é um mau argumento, grotesco e rude para desconsiderar uma pessoa quando esta é, pois, idônea e bonita. Chegamos então à palavra latina 'catagrapha' – novamente, o desenho de um 'perfil', o desenho só de um lado de uma pessoa. Plínio, O Velho, século I d. C., explica que na presença de uma 'catagrapha' o observador deve imaginar com seu pensamento o outro lado não feito desse desenho, desse 'perfil'.

Ó homens que desprezam as Letras, imaginar por si o outro lado do 'perfil' configura, única e somente, o seu pensamento: triste observação se imagina ser o outro lado um Polifemo vencido e cegado por Odisseu. Mas, ó homens, se vocês estiverem diante de Métis, vocês não estarão de mera forma diante somente da inteligência, mas irão se achar na presença de algo ainda mais forte: de uma prudência avisada.

Sim, homens, enquanto continuarem a desprezar as Letras, irão sofrer por suas palavras mal empregadas.

Os homens que dizem “você não tem perfil” sofrerão de ignorância etimológica no Tártaro, dado que todos um dia lá chegarão. Receberão dolorosas mordidas de Cérbero, mas como já estarão mortos só sentirão a dor tal qual a da misoginia pelo todo tempo eterno.

Hades sabe como cuidar dos maus mortos.

domingo, 30 de setembro de 2018

Trata-se de uma questão de decoro o amor?

O tempo urge e logo chega dezembro.
Amanhã já é mês 10
e, mais dois meses,
de novo Natal.

Tratemo-nos bem, embora tenhamos dores;
amemo-nos, abracemo-nos;
ainda que nos estranhemos,
porque logo chega
sabe quem?
De novo ele:
o Natal.

Menino Jesus nasceu.
Para os católicos
e para aqueles
que simples
na mente
desejam
festejar
ele:
o Natal.

Viva o capitalismo cristianizado!
Viva os presentes!
Viva a comilança!
Sacralizemos, pois
a falta de amor ao próximo,
a falta de amor aos gays,
aos umbandistas,
aos que não irão
à sacra missa.

Mês 10 é amanhã.
Foi-se praticamente
todo ele:
o 2018.

Que venha o novo ano!
Que venha com amor,
de casal e de amigos;
mas que venha já - pra que esperar até 2019?

- Só quero saber amar... só!
- Só quero estar junto de quem saiba amar. 

Então Sócrates responde a Fedro:
"Portanto eu, por estar envergonhado ante o que imaginaria esse homem e temeroso do próprio Eros, desejo lavar o amargo de meus ouvidos com um discurso mais doce. E aconselharei Lísias a escrever tão logo que possa, que niveladas outras coisas, deve-se dar preferência ao amante, preterindo o não amante".

sábado, 11 de agosto de 2018

Solitária beleza

Bonita,
Constantemente desejada,
Não fica só depois da balada.

Todavia,

Só está seu coração
Aquele, sobre o qual ninguém se interessa por.
Ninguém.
Por isso,
Só.
Ainda que bonita,
Sempre só. 

domingo, 1 de julho de 2018

Major Diogo

Corro pelas ruas molhadas e sujas de São Paulo.
Tão grande metrópole, mas sempre o mesmo destino: o apartamento da Major Diogo - uma das mais sujas ruas da região central paulistana. 

Onde está o apartamento nesta noite?
Procuro incessantemente, são duas as torres... Nada. Teriam sido demolidas?

Na primeira vez, primeira ida, entrei no apartamento, havia uma festa, mas o morador não estava presente. 

Na segunda, entrei, mas já não havia festa, tampouco o morador. E quando olhei pela janela, percebi que estava no Crusp, não na Major Diogo.

Na terceira fiquei na esquina da rua, perguntando aos comerciantes locais do morador... Ninguém sabia de nada... Apenas encontrei na esquina um saco de lixo com fitas VHS: símbolo de um passado que se foi, mas que está registrado.

Na quarta vez, estava no apartamento da rua de cima, paralela à Major Diogo. Com o zoom de minha câmera digital consegui, enfim, ver o morador. Ele percebeu que eu o procurava. Mirou em minha direção, piscou um de seus olhos e, em seguida, fechou a cortina. 

Hoje os apartamentos não estavam mais lá. 

Hoje foi meu quinto sonho desesperador sobre o apartamento e o morador da Major Diogo. 

Lembranças de um abandono. 


Restos de lembranças de algo que nunca foi, mas que simplesmente se foi deixando feridas abertas cujo pus fervilha nesses devaneios oníricos na contramão de minha razão. 

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Uma mulher em fúria

Eu odeio homens, 
Esse bando de babacas que dominam o mundo, esse bando de babacas que historicamente e hodiernamente subjulgam as mulheres e, quando não o fazem, participam de um faz de conta de respeito, quando na verdade a única coisa que eles querem é manter uma boceta para poderem gozar dentro quando lhes convém. 
Odeio homens, porque se trata de uma luta de classes e, nós, mulheres, estamos sempre à margem. 
Odeio homens simplesmente porque eles também nos odeiam a nós mulheres. São escrotos, vis e, os que se dizem feministas, repito, só querem uma boceta garantida para poderem gozar. 
Isso não vai mudar nunca. E leis só servem para camuflar e amenizar o poder violento do ódio que eles, os homens, sentem por nós a cada conquista feminista. 

Enfim, odeio os homens porque simplesmente se trata de reciprocidade.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

O nascimento de uma arte com amor


mais clara fica a vida ida
as coisas idas
idas ficaram
travada a vida d’outrora
hoje é fluir em aurora
vida que vive volúpia
volúpia que desconhece o castrar
vida que vive e vive
vida que é e é
vida de job e arte
vida que é arte e job
amor em vida que vive
destravou-se a vida ida
e fez-se a vida que vê à frente:
amor amor amor
jobartamor em flor
nasceu do asfalto um lindo pé
pé de jobartamor