Era natal. Como é de se esperar, todos fazem aquela cara de feliz de natal. Uns de fato estão felizes. Outros estão deveras disfarçando ser um ser que não o é. Neste meio, encontramos, pois, o homem ostracismado, que fita todos ao seu redor, mas, a mais pequena frase dita entre os seus semelhantes lhe é respondida com olhares de “não toque em minha ferida”, ou de “hoje não é data para verdades”.
Fujamos desta data esquisita para o homem ostracismado, que é o natal, e nos atentemos ao aspecto ermitão de nosso personagem. Voltemos agora à sua infância, aos seus primeiros anos de vida. Ainda, leitor curioso, podemos ir além, e invadir a barriga de sua mãe; para os leitores mais espiritualistas, ainda podemos avançar para trás um século, ou mais outro e outros. E estaremos à procura infinda deste ostracismo que luta contra um estoicismo arraigado no que concerne ao que é o humano em sociedade sem conseguir resposta.
Não é difícil para quem escreve, de repente, pensar no caso do homem ostracismado, uma vez que há uma vária parcela da população se ostracismando. Essa parcela está, neste momento, sofrendo um turbilhão de emoções incógnitas sem saberem que respostas dar a questionamentos os mais singelos possíveis, como por exemplo: por que estou aqui nesta casa?; ou ainda: por que estou andando com esta pessoa?; e mais: pra que estou fazendo essa coisa? – e é nessa hora que o mais religioso dos homens terrestres se sente abandonado por seu deus, seja ele de que credo for, até os sem credo. E explode de dentro do estômago para fora uma bolha de dez centímetros de diâmetro a subir pela garganta e atrapalhar o ar. Neste instante, o indivíduo, se está em grupo, faz um sorriso e um olhar blasé, disfarça, e sem saber do poder que tem sobre o seu corpo, em segundos faz a esfera, de que não se sabe direito, desaparecer. E somente quando se ostracismar novamente o indivíduo compartilhará de companhia secreta da bolha. Mas quando está só, a bolha é implacável, e cresce, e cresce, e cresce, não dói, não machuca, mas como dói e machuca tudo aquilo! De repente outra coisa vem à cabeça e num milagre (porque esses acontecimentos são metafísicos) a ignota bolha se desfaz. Descisma-se. E fica somente a ostra.
Desse mal sofre toda a humanidade, caro leitor amigo. E digo-lhe: gosto de literatura porque quando me emaranho em uma história, não há cabeça pra bolha cismada nenhuma. Bendita seja a literatura e as metáforas. Mais benditos ainda sejam os que sabem interpretar metáforas e não se deixam enganar por falsos discursos de amor que somente levam à ignorância do não autoconhecimento.
Hoje eu me ostracismei de novo, e olhe que já é 26 de dezembro! É. Acho que não tem cura. Arranjemo-nos com paliativos.