quarta-feira, 27 de abril de 2011

O dia 6 de abril

Diferente do enterro de Brás Cubas, com chuva e poucas pessoas, o enterro de meu pai foi num lindo dia de sol com homenagens de praticamente todos os hangares de aviões onde ele trabalhou. Meu pai era mecânico de aviões. Quando eu era criança, ele me levava em voos de experiência em seu colo, no lugar do copiloto, e eu me deleitava a brincar no manche dos pequenos aviões.

Em 1991, meu irmão mais velho, Márcio, caiu de um avião - pane seca - o avião partiu-se ao meio, mas não explodiu, o que fez com que ele sobrevivesse e com que minha mãe deixasse de permitir minhas idas aos voos de experiência.

Meu pai viveu: conheceu todo o Brasil a socorrer aviões.

Em seu velório e enterro vi que pela primeira vez na vida deveria sentir uma saudade infinda.

Meu paizinho Tiãozinho morreu à 1 hora do dia 6 de abril. Meus irmãos Márcio e Sandro estavam com ele. Eu em São Paulo, eles em Sorocaba. Não tenho imagens para transcrevê-las, tenho apenas os relatos de meus irmãos e de minha mãe, em especial, do Sandro.

Liguei para minha mãe no dia 5 à tarde e ela me disse que "o pai tá ruim, viu", que era caso de chamar o resgate. Disse para ela ligar para os meus irmãos e eu também os contactei pelo msn. À noite liguei novamente. O Márcio disse que "o pai tá mal", mas estava sendo atendido. Já estava dormindo quando ele me ligou e disse que "infelizmente o papai morreu, Mô". Desliguei o telefone depois de ter dito algumas coisas, do tipo "tá bom", "...", vazio, susto, tristeza e mudez. Chorei. Fui para Sorocaba, cheguei ao velório. Meu pai estava morto dentro de um caixão. Apenas o seu corpo. A alma dele em paz. Penteei o cabelo do corpo, junto de minha mãe, como meu pai fazia quando vivo: de ladinho, e não para trás como o fizeram. Meu lindo pai, meu paizinho, mecânico de aviões, 65 anos, 2 de aposentadoria.

Amo-o para sempre.