O ano é de 2014, ano de copa do
mundo no Brasil. Não sou tão ativista quanto gostaria de ser, pois preciso
manter minha jornada de trabalho e, concomitantemente, minha renda, que é o que
me dá uma certa liberdade de ir e vir. No contexto desta minha liberdade, pude
acompanhar os protestos de 2013 contra o aumento das tarifas dos passes de
ônibus em minha cidade natal, Sorocaba, e também em São Paulo, minha segunda
morada. Os protestos foram uma coisa linda! Alastraram-se por todo o país,
tiveram repercussão mundial, e o povo, neste ínterim, vendo que conquistara o
não aumento das tarifas, vomitou todo o seu desespero e clamou por saúde e
educação.
Que o Brasil é recheado de
personas corruptas desde a fabulosa carta de Pero Vaz de Caminha, não restam
dúvidas; e destes corruptos todos nós sabemos. Sabemos a tal ponto de tomarmos,
em época de eleições, o estúpido discurso “voto neste porque é o menos pior”.
Assim, conscientes de toda a parafernália desnecessária ao país, e de todas as
necessidades gritantes de nossa terra, o clamor do povo brasileiro, um povo
apaixonado por futebol, desesperou-se e
gritou “não vai ter copa!”. Mas, como a mídia e o poder econômico financeiro
são chefes mor de toda e qualquer sociedade que privilegie como melhor aquele
que possui o tão famigerado dinheiro, teve copa sim, com direito a estádios
superfaturados e privação da liberdade de expressão em épocas de “democracia”.
A copa. Festa Nacional. Linda
festa, não fossem os roubos. A copa já começou estranha devido ao clima do “não
vai ter copa!”.
A seleção brasileira abriu a
festa do esporte na grande metrópole do país, São Paulo, com um gol contra. Já
começou mal. Esta seleção foi, pois, uma imitação das políticas públicas do
país, que pode levar o epíteto de uma peça de Nelson Rodrigues (dramaturgo e
jornalista apaixonado por futebol, que teria um “treco” com nosso cenário atual).
A peça a que me refiro é “Bonitinha mas Ordinária”. Embora o enredo da peça
seja outro, o seu nome vem a calhar, pois cai bem tanto para a seleção
brasileira, quanto para a forma de governo do Brasil.
Antes do começo da copa, eu, já
desanimada com a festa devido ao clima social frustrante, fui fazer turismo
para descansar a cabeça do trabalho e aprender um pouco mais sobre o ser
humano. Fui conhecer Machu Picchu e, é claro, aproveitar para conhecer um
pouquinho do Peru. Nesta visita a um país mais pobre do que o Brasil, não pude
ignorar o nó em minha garganta por ver tanta resignação de um povo restrito às
suas grandes favelas de casas de barro. Uma cidade lotada de turistas, a sua
maioria europeus e norte-americanos; enquanto nos sítios escusos da cidade,
vê-se a pobreza escancarada em olhos sofridos pela falta de sentimento de
respeito, falta de saneamento, uma pele marcada pela aspereza do sol, mas que
mesmo assim, exibe um povo a sorrir para os turistas, como se estes com suas
máquinas fotográficas a lhes “roubar as almas” em flashs pudessem também lhes
levar alguma espécie de alegria. Em Cusco, cidade onde fiquei, pelo menos há o
turismo para a população retirar dele alguma forma malograda de como se manter.
E no resto do Peru? De tudo, senti-me grotesca ao lhes fotografar o sofrimento
travestido de felicidade. Registro de um faz de conta de terra encantada.
Cusco, seus arredores e Machu Picchu têm uma riqueza natural e arqueológica sem
igual por sua idiossincrasia; todavia, a pobreza do caráter político que deixa
seu povo na miséria é desprezível. Foi então que vibrei ainda mais pelos
movimentos e manifestações do Brasil.
No dia 8 de julho, quando cheguei
da rua, em Cusco, entrei no hotel e vi o catastrófico resultado do jogo do
Brasil contra a Alemanha, ocasião esta em que nosso time perdeu a partida por
7x1. Somente constatei que o show terminara ali.
Considerações finais
A copa é uma festa e Machu Picchu linda, isto é fato, e disto muito se aproveita, afinal, ser feliz também faz parte da vida, mas...
Da copa do Brasil, penso que ao
final da festa corrupta – embora festa, corrupta – simplesmente não sei o que
dizer ou no que acreditar. Não consigo mais crer nem no que leio, muito menos
no que vejo na TV.
De Machu Picchu, um templo dos Incas,
ou que ao menos era para ser um, à parte toda a sua beleza espetacular, as
autoridades fizeram do patrimônio da humanidade um estabelecimento comercial
com taxa altíssima a ser cobrada para que possa ser visitado.
De ambos os eventos supracitados,
só sei que todo o dinheiro arrecadado vai para o bolso de pouquíssimos. Os
pobres continuarão pobres. Os miseráveis, miseráveis.
E eu... continuarei tentando ser livre.