quinta-feira, 17 de julho de 2014

Copa do mundo, Peru e algumas considerações pessoais


O ano é de 2014, ano de copa do mundo no Brasil. Não sou tão ativista quanto gostaria de ser, pois preciso manter minha jornada de trabalho e, concomitantemente, minha renda, que é o que me dá uma certa liberdade de ir e vir. No contexto desta minha liberdade, pude acompanhar os protestos de 2013 contra o aumento das tarifas dos passes de ônibus em minha cidade natal, Sorocaba, e também em São Paulo, minha segunda morada. Os protestos foram uma coisa linda! Alastraram-se por todo o país, tiveram repercussão mundial, e o povo, neste ínterim, vendo que conquistara o não aumento das tarifas, vomitou todo o seu desespero e clamou por saúde e educação.
Que o Brasil é recheado de personas corruptas desde a fabulosa carta de Pero Vaz de Caminha, não restam dúvidas; e destes corruptos todos nós sabemos. Sabemos a tal ponto de tomarmos, em época de eleições, o estúpido discurso “voto neste porque é o menos pior”. Assim, conscientes de toda a parafernália desnecessária ao país, e de todas as necessidades gritantes de nossa terra, o clamor do povo brasileiro, um povo apaixonado por futebol,  desesperou-se e gritou “não vai ter copa!”. Mas, como a mídia e o poder econômico financeiro são chefes mor de toda e qualquer sociedade que privilegie como melhor aquele que possui o tão famigerado dinheiro, teve copa sim, com direito a estádios superfaturados e privação da liberdade de expressão em épocas de “democracia”.
A copa. Festa Nacional. Linda festa, não fossem os roubos. A copa já começou estranha devido ao clima do “não vai ter copa!”.
A seleção brasileira abriu a festa do esporte na grande metrópole do país, São Paulo, com um gol contra. Já começou mal. Esta seleção foi, pois, uma imitação das políticas públicas do país, que pode levar o epíteto de uma peça de Nelson Rodrigues (dramaturgo e jornalista apaixonado por futebol, que teria um “treco” com nosso cenário atual). A peça a que me refiro é “Bonitinha mas Ordinária”. Embora o enredo da peça seja outro, o seu nome vem a calhar, pois cai bem tanto para a seleção brasileira, quanto para a forma de governo do Brasil.
Antes do começo da copa, eu, já desanimada com a festa devido ao clima social frustrante, fui fazer turismo para descansar a cabeça do trabalho e aprender um pouco mais sobre o ser humano. Fui conhecer Machu Picchu e, é claro, aproveitar para conhecer um pouquinho do Peru. Nesta visita a um país mais pobre do que o Brasil, não pude ignorar o nó em minha garganta por ver tanta resignação de um povo restrito às suas grandes favelas de casas de barro. Uma cidade lotada de turistas, a sua maioria europeus e norte-americanos; enquanto nos sítios escusos da cidade, vê-se a pobreza escancarada em olhos sofridos pela falta de sentimento de respeito, falta de saneamento, uma pele marcada pela aspereza do sol, mas que mesmo assim, exibe um povo a sorrir para os turistas, como se estes com suas máquinas fotográficas a lhes “roubar as almas” em flashs pudessem também lhes levar alguma espécie de alegria. Em Cusco, cidade onde fiquei, pelo menos há o turismo para a população retirar dele alguma forma malograda de como se manter. E no resto do Peru? De tudo, senti-me grotesca ao lhes fotografar o sofrimento travestido de felicidade. Registro de um faz de conta de terra encantada. Cusco, seus arredores e Machu Picchu têm uma riqueza natural e arqueológica sem igual por sua idiossincrasia; todavia, a pobreza do caráter político que deixa seu povo na miséria é desprezível. Foi então que vibrei ainda mais pelos movimentos e manifestações do Brasil.
No dia 8 de julho, quando cheguei da rua, em Cusco, entrei no hotel e vi o catastrófico resultado do jogo do Brasil contra a Alemanha, ocasião esta em que nosso time perdeu a partida por 7x1. Somente constatei que o show terminara ali.

Considerações finais

A copa é uma festa e Machu Picchu linda, isto é fato, e disto muito se aproveita, afinal, ser feliz também faz parte da vida, mas...

Da copa do Brasil, penso que ao final da festa corrupta – embora festa, corrupta – simplesmente não sei o que dizer ou no que acreditar. Não consigo mais crer nem no que leio, muito menos no que vejo na TV.
De Machu Picchu, um templo dos Incas, ou que ao menos era para ser um, à parte toda a sua beleza espetacular, as autoridades fizeram do patrimônio da humanidade um estabelecimento comercial com taxa altíssima a ser cobrada para que possa ser visitado.

De ambos os eventos supracitados, só sei que todo o dinheiro arrecadado vai para o bolso de pouquíssimos. Os pobres continuarão pobres. Os miseráveis, miseráveis.

E eu... continuarei  tentando ser livre.